quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Crente que sabe algo sobre analfabetismo

Em 2005 o IBGE indicou mais de 70% de anafabetismo + analfabetismo funcional no Brasil, um número alarmante e que, segundo o inaf caiu para 20% em 2011, uma vitória, mas ainda estamos falando de um quinto da população do país.
E daí? Qual o problema? Muito simples, isso significa que existe uma grande parcela da população que não consegue absorver conhecimento a partir de um texto, o que explica muito sobre a atual situação brasileira.
Mas não quero focar nisso, longe de mim, quero falar com os outros 80 %, mais do que isso, o inaf no mesmo estudo ressalta que apenas 20% da população é alfabeta plena, ou seja : "Nível pleno: classificadas neste nível estão as pessoas cujas habilidades não mais impõem restrições para compreender e interpretar textos em situações usuais: leem textos mais longos, analisando e relacionando suas partes, comparam e avaliam informações, distinguem fato de opinião, realizam inferências e sínteses. Quanto à matemática, resolvem problemas que exigem maior planejamento e controle, envolvendo percentuais, proporções e cálculo de área, além de interpretar tabelas de dupla entrada, mapas e gráficos.". Isso significa que apenas 20% da população brasileira em 2011 correlacionava e avaliava textos com facilidade, que apenas 1/5 da nossa sociedade separa fatos de opiniões em um texto com facilidade, e eu me questiono, o que essas pessoas estão fazendo?
Bom, essa semana eu li e vi alguns vídeos sobre a Questão Malafaia inclusive a ótima réplica postada, e percorrendo os comentários tanto dos textos quanto do facebook entre outros e correlacionando-os com esse ótimo texto sobre falácias e o Malafaia eu notei um grande problema em nossa sociedade atual, o elitismo intelectual.
Calma, respira, não quero universidade para todos, juro, não é essa ideia, não, o que eu vi é que alguma parte desses 20% da população está se aproveitando do baixo nível de alfabetização brasileiro para enriquecer ou ganhar poder as custas do povo, o que nos leva ao velho argumento que "os políticos não querem o povo inteligente" o qual eu concordo mas não desejo reforçar a toa.
Ok, parte dos 20% está na política, liderando igrejas ou outros movimentos/ONGs exploradoras, mas 20% é mais que 35 milhões de pessoas, e por mais que comparativamente seja pouco, ainda é gente pra burro, e nem todas estão explorando de o analfabetismo, então cadê elas? Bom, algumas estão ensinando certo? Cheguei onde queria.
Hoje sou professor particular, experiência um tanto quanto diferente da sala de aula, e noto em Brasília entre meus alunos uma dificuldade não só em interpretação de texto (analfabetismo) mas também uma difculdade argumentativa, uam dificuldade em pensar, questionar e debater, mas como são experiências próprias e sem validade de estudo acabei deixando para lá.
Sempre me perguntei se era um padrão mas nunca tinha havia me aprofundado, mas os dados do Inaf me confirmaram o que eu temia, é sim um padrão.
E de quem é a culpa? Minha. Minha e de todos os outros alfabetos plenos brasileiros, sim, se você se encaixa você é culpado também.
Hoje, pior do que os alfabetos plenos que se aproveitam do analfabetismo, temos os alfabetos plenos que nada fazem para mudar esse quadro, alfabetos plenos que discutem com analfabetos, usando ou não de falácias, e se contentam em parecerem/serem mais inteligentes, sem tentar construir um novo pensamento com a discussão. Toda vez que um alfabeto pleno discute em ambiente público (internet) com alguém apenas para mostrar seu ponto de vista, apenas para "ser foda" ele alimenta esse analfabetismo, ele está alimentando seu ego na ignorância alheia, ele se aproveita da situação para se sentir melhor, e isso é errado.
Os alfabetos plenos devem distribuir o conhecimento, não destruir e humilhar utilizando-o, senão eles irão afastar os analfabetos do saber ao invés de atrai-los. Cabe a esses 20% da população sempre medir suas palavras e adequar seus discursos, para que sua forma de expressão leve os leitores a buscarem mais conhecimento, a chegarem a seu nível para que haja uma dicussão saudável e construtiva.
E no topo dos culpados, está a classe que mais reclama no Brasil atual de ser injustiçada, desrespeitada e desvalorizada, a classe dos professores, é um absurdo que a classe docente brasileira ouse querer mais respeito e maiores salários com esses indíces, é um absurdo um professor que não estimula a discussão na sala de aula falar que está dando o melhor de si.
Hoje vários fatores influenciam nos indíces do Inaf, mas a educação se mostra como um fator decisivo, o que coloca o professor como ser vital na alfabetização de um país, o que parece óbvio mas normalmente esquecemos.
Então, nós professores, ao bradarmos querer mais respeito devemos lembrar de respeitar nossos alunos, de exigir sempre o melhor de cada um deles, de não nos satisfazer com formas de raciocinio mediocres, de não nos contaminar pela rotina, de nunca subestimar uma dúvida, de sempre valorizar a discussão, e precisamos ter claro que não somos os donos da verdade, pelo contrário, a verdade está sempre em construção e o aluno tem papel fundamental nesse processo.
Então da próxima vez que for discutir com radicais evangélicos na internet, lembre do Malafaia e tenha certeza que você não está contribuindo para que pessoas como ele e o Sarney continuem tendo 80% da população para explorar. Expressa sua opinião, busque a verdade, ensine e aprenda, não humilhe, não desrespeite, e talvez o Brasil comece a melhorar.